“CBF e Conmebol podiam olhar com mais carinho para as vítimas”, diz Jackson Follmann, sobrevivente da Chapecoense

  • Por Jovem Pan
  • 11/10/2017 14h15
Johnny Drum/ Jovem Pan

A noite de 28 de novembro de 2016 nunca será esquecida pelos amantes do futebol. Naquela data, a aeronave 2933 da LaMia caiu na Colômbia matando 71 passageiros entre jornalistas, convidados e profissionais da equipe Chapecoense. Eles tinham como destino a cidade de Medellín onde disputariam a primeira partida da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional. Um dos seis sobreviventes foi o então goleiro Jackson Follmann. Hoje, ele se diz bastante agradecido pelo apoio que as vítimas e suas famílias têm recebido do clube de Chapecó, mas revela que o suporte prometido por outros times e entidades não chegou a acontecer.

“Eu não tenho todas as informações, mas sei que foram poucos os que ajudaram de verdade. Na época teve mais mídia pela situação. Acho que 80% ou 90% dos que morreram tinham filhos de 3 ou 4 anos. Eu estou vivo, não tenho o que reclamar. Mas precisam olhar para as outras famílias. Muitas delas dependiam dos maridos. Eu posso afirmar que a Chapecoense tem sido ótima e dado todo o suporte necessário a todos. Mas fora dali, não. A CBF e a Conmebol podiam olhar com mais carinho, por exemplo”, disse ele em entrevista ao Pânico na Rádio nesta quarta-feira (11).

De acordo com o convidado, ele e os companheiros também estão em uma briga judicial com a LaMia, empresa boliviana responsável pelo voo. Em julho deste ano, ela virou inclusive alvo de investigação da Polícia Federal. As autoridades pretendem descobrir se a companhia tinha algum tipo de contrato com entidades representativas do futebol latino-americano, como a Conmebol e a AFA (Associação de Futebol Argentino).

“O que aconteceu exatamente ainda é uma incógnita. Não sabemos muita coisa. Com certeza tem muita coisa grande envolvida. A verdade vai vir à tona se Deus quiser (…). O que sabemos é que faltou combustível. Uma das situações é essa. As outras eu não sei”, afirmou.

Ainda se recuperando de 13 fraturas, Follmann contou que continua sentindo dores. Além da amputação da perna direita, onde usa uma prótese, ele tem uma complicação no tornozelo esquerdo que dificulta alguns movimentos, por exemplo, e sente desconforto no pescoço devido a um parafuso colocado em sua cervical. Por essas e outras, faz academia e exercícios de recuperação, mas não pensa em voltar tão cedo a praticar esporte de alto rendimento. Daqui um ou dois anos, pode começar a cogitar alguma modalidade paralímpica.

“Vou me dedicar por enquanto no cargo de embaixador da Chapecoense. Eu participo de todos os eventos do time, faço algumas reuniões que presidente não pode ir e acompanho o grupo no dia a dia. Estou fazendo curso de gestão para me tornar também um diretor. Estou focado nisso. Hoje o clube me dá total apoio e liberdade para fazer as coisas. Preciso estudar e agregar conhecimento ao que já sei e crescer profissionalmente”, concluiu.

Parte dos planos futuros envolve abrir uma clínica para amputados em Chapecó. Junto aos médicos, ele quer levar à cidade uma filial do instituto que o reabilitou em São Paulo.

“Quero que todos os amputados tenham o mesmo conforto que eu tive. Minha segunda chance me deixou esse legado, preciso acrescentar algo positivo na vida dos outros. Eu senti na pele como é necessário ter uma prótese de qualidade. Hoje faço coisas que ninguém acredita! Mas para isso é preciso ter um material de qualidade. E é caro, muita gente não tem condição”, finalizou. Confira a íntegra da conversa no vídeo.

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